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terça-feira, 23 de setembro de 2008

Pintar é construir.

Pintar é construir. Como em qualquer outra forma de arte, a pintura não passa de um veículo de expressão. Quer falemos de algo intimo ou de algo exterior, como por exemplo de uma crítica política, tudo o que construímos reflecte-nos a nós. No caso da minha pintura aquilo que vou fazendo está constantemente a abrir-me portas para novas realidades pictóricas e novos conteúdos. Desta forma, a pintura funciona como uma espécie de motor que potência as minhas ideias e estimula a minha percepção do mundo. Com a pintura acontecem uma série de imprevistos, acidentes e surpresas que me fazem parar o processo e repetir. É importante para mim que o lado inconsciente aconteça, e é depois que racionalizo sobre o que tenho à frente.

O nosso inconsciente está mais próximo do que somos na realidade. Longe de todas as construções que a sociedade nos impôs. É por isso que, para mim, pintar é um acto de meditação, de comunhão comigo mesmo. É uma forma de chegar à raiz das coisas. Creio que é essencialmente essa a diferença entre os bons e os grandes pintores. A ponte que alguns criam entre o que são realmente e a realidade. Algumas pessoas podem ter óptimas ideias, geniais até, uma capacidade brutal de desmembrar regras e construir novos pressupostos. Considero esse mundo, o da arte contemporânea, fascinante e bastante inteligente. Porém, para mim, a pintura é muito mais do que uma discussão de ideias e formas de pensar. É um veículo que me aproxima do “eu” real. Que me deixa mais próximo da criança de cinco anos que está dentro de mim. Com isto não quero dizer evidentemente que as ideias e as coisas que se pintam não interessam. O que quero dizer é que se houver uma consciência forte, tudo o que se pintar vai fazer todo o sentido e ter todo o interesse. A pintura depende da relação que temos com ela. Algumas pessoas como Pablo Picasso parecem nascer desbloqueadas. Porém considero que a pintura nasce com a maturidade de cada um, ainda que na maior parte dos casos seja uma consciência do inconsciente.

Sei que ainda estou no inicio mas que a forma como tenho encarado o mundo em geral me tem ajudado muito. Ainda somos as peças estruturais do lego que estamos a montar. Eu e a pintura. Porém peça a peça vamos crescendo e ao mesmo tempo aproximando-nos do cerne, bombeando cada vez mais a nossa desconstrução, que nos leva a pintar e a construir…